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Maya Angelou

Maya Angelou

Maya Angelou – Sobre desvios diversos

maya angelou

Quando o amor é uma cortina cintilante
Diante de uma porta ao acaso
Que leva para um mundo duvidoso
Onde se baila uma dança macabra
De ossos que chacoalham silenciosamente
De olhos cegos que rolam
De grossos lábios contraídos, renegado
Milhares de sinais pulverizados,
Onde o contato é pelo sentir
E a vida, uma prostituta cansada
Eu seria levada, sem gentileza
Para beira-mar,
Onde o amor é o grito da angústia
E nenhuma cortina esconde a porta.

Maya Angelou, Poesia completa – Tradução, Lubi Prates

Maya Angelou

Maya Angelou – Carta para um aspirante a viciado

maya angelou

Deixa eu te dar a letra sobre as ruas,
Jim,
Não tá acontecendo nada.
Talvez alguns amanhãs se transformem em fumaça,
evangelizadores esfarrapados contando piadas
para velhas empregadas sozinhas, sem filhos.

Nada tá acontecendo,
Não tá rolando nada, Jim.
Um bando de gatinhos montados
naquele cavalo branco frio,
com um macaco cinza velho nas costas que, é claro,
faz truques de rodeio.

Não tá pegando nada, cara.
Não tá pegando nada.
Um cafetão exausto, com um penteado alisado da era espacial,
enrolando um idiota no truco
ou no pôquer ou
me tragam ele vivo ou morto.

As ruas?
Suba as ruas, cara, como se montasse
o traseiro de um leão.
E aí tá tudo bem.
É um bugaloo e um shing-a-ling,
Sonhos africanos num sapateado e numa oração.
Isso é a rua, cara,
Nada está acontecendo.

Maya Angelou, Poesia completa, Tradução, Lubi Prates

Maya Angelou

Maya Angelou – Ainda assim me levanto

maya angelou

Você pode me marcar na história
Com as suas mentiras amargas e torcidas
Você pode me esmagar na própria terra
Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.

Meu atrevimento te perturba?
O que é que te entristece?
É que eu ando como se tivesse poços de petróleo
Bombeando na minha sala de estar.

Assim como as luas e como os sóis,
Com a certeza das marés,
Assim como a esperança brotando,
Ainda assim, eu vou me levantar.

Você queria me ver destroçada?
Com a cabeça curvada e os olhos baixos?
Ombros caindo como lágrimas,
Enfraquecidos pelos meus gritos de comoção?

Minha altivez te ofende?
Não leve tão a sério
Só porque eu rio como se tivesse minas de ouro
Cavadas no meu quintal.

Você pode me fuzilar com as suas palavras,
Você pode me cortar com os seus olhos,
Você pode me matar com o seu ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.
Minha sensualidade te perturba?
Te surpreende
Que eu dance como se tivesse diamantes
Entre as minhas coxas?

Saindo das cabanas da vergonha da história
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, vasto e pulsante,
Crescendo e jorrando eu carrego a maré.

Abandonando as noites de terror e medo
Eu me levanto
Para um amanhecer maravilhosamente claro
Eu me levanto
Trazendo as dádivas que os meus ancestrais me deram,
Eu sou o sonho e a esperança dos escravizados.
Eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.

Maya Angelou, Você lembrará seus nomes – Tradução Lubi Prates

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Maya Angelou – Nem perdedora, nem chorona

maya angelou

“Eu odeio perder qualquer coisa”,
então ela abaixou a cabeça,
“mesmo um centavo, me faz querer morrer.
Não consigo explicar. Não tenho mais nada a dizer.
Exceto que eu odeio perder qualquer coisa.

“Uma vez, perdi uma boneca e chorei durante uma semana.
Ela abria os olhos e fazia tudo, menos falar.
Acho que ela foi roubada por algum ladrão de bonecas à espreita.
Juro, eu odeio perder qualquer coisa.

“Uma vez, um relógio meu se levantou e vazou.
Ele tinha todos os doze números e para cada hora do dia.
Eu nunca vou esquecer e tudo o que posso dizer
É que eu realmente odeio perder qualquer coisa.

“Então, se eu me senti assim por um relógio e uma boneca,
O que você acha que eu sinto pelo meu amor?
Eu não estou ameaçando você, senhora, mas ele é a alegria das minhas noites.
E o que eu estou dizendo é que eu realmente odeio perder qualquer coisa.”

Maya Angelou, Poesia completa

Maya Angelou

Maya Angelou – Numa época

maya angelou

Numa época de namoro escondido
O hoje prepara a ruína o amanhã
A mão esquerda não sabe o que a direita faz
Meu coração se rasga em dois.

Numa época de suspiros furtivos
Chegadas alegres e despedidas tristes
Meias verdades e mentiras inteiras
Um trovão ecoa na minha cabeça.

Numa época em que os reinos vêm até nós
A alegria é breve como brincadeira de verão
A felicidade concluiu sua corrida
Então, a dor se aproxima para o saque.

Maya Angelou, Poesia completa

Maya Angelou

Maya Angelou – Perdoe

maya angelou

Me leve, Virgínia,
me amarre perto
das memórias de Jamestown
de corridas em camptown e
de navios grávidos
de certa mercadoria
e Richmond voando alto sobre a ganância
e baixo nas marés tediosas
da culpa.

Mas me aceite, Virgínia,
solte seu turbante de flores
para que pétalas de pêssego e
flores de corniso possam
formar dragonas1 de
ternura branca nos meus ombros
e em volta da minha
cabeça, cachos
de perdão, comoventes
como olhos que se reviram, tristes como
guarda-sóis de verão no furacão.

Maya Angelou, Poesia Completa

Maya Angelou

Maya Angelou – Um Zorro

maya angelou

Aqui
no quarto íntimo
em cortinas de seda roxa
reflete uma luz sutil
como suas mãos
antes de fazermos amor

Aqui
sob lentes encobertas
eu capturo uma
imagem clitoriana
da sua estada costumeira
longa e demorada
como as madrugadas de inverno

Aqui
esse espelho sem manchas
me prende sem vontade
no passado
quando eu era o amor
e você, com botas e coragem
e tremendo por mim.


Maya Angelou, Poesia completa

Maya Angelou

Maya Angelou – Fins de outubro

maya angelou

Cuidadosamente
as folhas de outono
soltam o som
baixíssimo de pequenas mortes
e os céus saciados
de pores do sol corados
de amanheceres rosados
se agitam incessantemente em
cinzas de teia de aranha e tornam-se
pretos
para conforto.
 
Apenas os amantes
veem a queda
o último sinal do fim
um gesto áspero de alerta
para aqueles que não ficarão alarmados
porque começamos a parar
simplesmente
para começar
de novo.

Maya Angelou, Poesia Completa

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Maya Angelou – Dança do macaco viciado

maya angelou

Ombros caídos,
O peso das picadas de agulha.
Braços se arrastam, batendo úmidos em juntas
Fracas.
 
Os joelhos amolecem,
Sua conhecida magia perdida. O velho dobra e
Trava e estende esquecido.
 
Dentes balançam em gengivas fedidas.
Olhos disparam, morrem, depois flutuam em
Suco símio.
 
O cérebro vacila,
Os planos-mestre de ideias velhas apagados. As
Rotas desapareceram sob os rastros
Das caravanas pelo deserto, antes da escravidão
Anos atrás.
 
Os sonhos falham,
Medos descontrolados no caminho de casa
Tomam conta. Pouco a pouco, uma vingança sombria
Assassinato é seu doce romance.
 
Quanto tempo ainda
Este macaco vai dançar?

Maya Angelou, Poesia Completa

Maya Angelou

Maya Angelou – Quando penso sobre mim mesma

maya angelou

Quando penso sobre mim mesma,
Gargalho até quase morrer,
Minha vida tem sido uma grande piada,
Uma dança que anda,
Uma canção que fala,
Gargalho tanto que quase perco o ar,
Quando penso sobre mim mesma.

Sessenta anos no mundo dessa gente,
A criança para quem trabalho me chama de garota,
Eu respondo “Sim, senhora” por causa do emprego.
Muito orgulhosa para me curvar,
Muito pobre para me quebrar,
Gargalho até meu estômago doer,
Quando penso sobre mim mesma.

Meus pais podem me fazer cair na gargalhada,
Rir tanto até quase morrer,
As histórias que eles contam soam como mentiras,
Eles cultivam a fruta,
Mas só comem a casca,
Gargalho até começar a chorar,
Quando penso sobre meus pais.

Maya Angelou, Poesia Completa

Maya Angelou

Maya Angelou – Pegar e dar o fora

maya angelou

Tem uma garota de pernas compridas
em São Francisco
lá pela ponte Golden Gate.
Ela disse que me daria tudo o que eu quisesse
mas eu não pude esperar.
Eu comecei a
Dar o fora,
Dar o fora,
Dar o fora,
indo para a próxima cidade,
Querida.

Tem uma morena bonita
em Birmingham.
Caras, ela era pequena e fofa
mas, quando ela começou a querer me amarrar,
eu peguei meu terno e comecei a
Dar o fora,
Dar o fora,
Dar o fora,
indo para a próxima cidade,
Querida.

Conheci uma mulher amável em Detroit
e pensei que minha hora havia chegado
Mas, antes que eu dissesse “aceito”,
eu disse “tenho que correr” e comecei a
Dar o fora,
Dar o fora,
Dar o fora,
indo para a próxima cidade
Querida.

Não há palavras para o que eu sinto
por um rosto bonito
Mas, se eu ficar, talvez eu perca
algo ainda mais bonito em outro lugar
Eu comecei a
Dar o fora,
Dar o fora,
Dar o fora,
indo para a próxima cidade
Querida.

Maya Angelou, Poesia completa

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Maya Angelou – A gama

maya angelou

Suave, dia, seja suave como um veludo,
Meu amor verdadeiro se aproxima,
Resplandeça, sol empoeirado,
Endireite suas carruagens douradas.

Suave, vento, seja suave como a seda,
Meu amor verdadeiro está falando.
Prendam, pássaros, suas gargantas prateadas,
É a voz dourada dele que busco.

Venha, morte, às pressas, venha,
Meu lençol negro, venha tecendo,
Quieto, coração, quieto como a morte,
Meu amor verdadeiro está indo embora.

Maya Angelou, Poesia completa

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Maya Angelou -Eles voltavam para suas casas

maya angelou

Eles voltavam para suas casas e contavam às suas esposas,
que nunca antes em suas vidas
haviam conhecido uma garota como eu,
Mas… Eles voltavam para suas casas.

Eles elogiavam a limpeza da minha casa,
eu não dizia nenhuma palavra que não fosse a certa
e mantinha meu ar de mistério,
Mas… Eles voltavam para suas casas.

As bocas de todos os homens me enalteciam,
eles gostavam do meu sorriso, da minha sagacidade, dos meus quadris,
passavam uma noite, ou duas ou três.
Mas…

Maya Angelou, Poesia completa