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Paul Celan

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Paul Celan – No vermelho tardio

Paul Celan

No vermelho tardio dormem os nomes:
um
tua noite desperta
e leva-o, com bastões brancos apalpando
ao longo da muralha sul do coração,
sob os pinheiros:
um, de forma humana,
avança à cidade-oleiro,
onde a chuva é acolhida como amiga
de uma hora-mar.
No azul
ela diz uma palavrárvore que promete sombras
e o nome de teu amor
acrescenta suas sílabas.

Paul Celan, Cristal

Paul Celan

Paul Celan – Elogio da distância

Paul Celan

Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.

Aqui, coração
que andou entre os homens, arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:

Mais negro no negro, estou mais nu.
Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.

Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.

Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.

Na fonte dos teus olhos
um enforcado estrangula o baraço.

Paul Celan, Antologia poética

Paul Celan

Paul Celan – Ouvi dizer

Paul Celan

Ouvi dizer que há
na água uma pedra e um círculo
e sobre a água uma palavra
que estende o círculo em torno da pedra.

Vi meu choupo descer para a água,
vi como o seu braço agarrou as profundezas,
vi suas raízes implorarem a noite aos céus.

Não o segui,
somente colhi do chão aquela migalha
que tem a forma de teu olho e a nobreza,
tirei de teu pescoço o colar de sentenças
e com ele adornei a mesa, onde já estava a migalha.
E não voltei a ver meu choupo.

Paul Celan, Cristal