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Ralph Waldo Emerson

Ralph Waldo Emerson

Ralph Waldo Emerson – A tempestade de neve

Propalada por todos os clarins do céu,
Chega a neve e, movendo-se ao alto dos prados,
Parece nada clarear: o ar em branco
Encobre bosques e colinas, céu e rio,
Dissimula a fazenda no fim do jardim.
O piloto e o trenó pararam, os pés dele
Lentos, amigos mudos, companheiros sentam-se
Em torno da luzente lareira, fechados
Num confuso refúgio fora da procela.
Venha ver a alvenaria do vento norte.
Provindo de pedreira sempre nunca vista
Guarnecido com telhas, o feroz artífice
Dobra seus brancos bastiães, tetos traçados
Em volta de barlaventos, ou porta ou árvore.
Lesto, mãos em miríades, seu fero obrar
Tão fantástico e selvagem, nada lhe importa
Seja número ou simetria. Zombeteiro,
Em cesto ou canzil pendura volutas párias;
Uma forma de cisne ataca o acúleo oculto:
Toma a vida do lavrador de lado a lado,
Apesar dos suspiros deste; e no portão
Uma cônica torre sobreleva a faina.
E quando suas horas são marcas e o mundo
É todo dele, só, qual se não existisse,
Deixa, quando aparece o sol, esta Arte atônita
Para a mímica em lentas estruturas, pedra
Sobre pedra, construída em certo período,
O trabalho noturno do vento demente,
A irreverente arquitetura dessa neve.

Ralph Waldo Emerson, Grandes poetas da língua inglesa do século 19

Ralph Waldo Emerson

Ralph Waldo Emerson – Hemeras (Os dias)

Estas filhas do Tempo, hipócritas Hemeras,
Como um derviz descalço, encapuçado e mudo, 
Marchando uma após a outra, em sucessões infindas, 
Trazem cheias as mãos de grinaldas e feixes:
Com miríficos dons, fausto ou doiradas messes,
Brindam a todos nós – segundo a nossa escolha. 
Em meu jardim fechado, as vi passar com pompa; 
Mas, esquecido então dos meus sonhos de outrora,
Contentei-me com ter alguns pomos…Hemera,
Sem murmurar palavra, a seguir, foi passando, 
E percebi – já tarde – o seu riso de mofa. 

O Livro de Ouro da Poesias dos Estado Unidos