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Raul Bopp

Raul Bopp

Raul Bopp – Noiva das ondas

Flor bizarra do Norte! A estranha graça
Que o teu corpo de sílfide promana,
Vem da saudade que em teus olhos passa
Como uma sombra de tristeza humana.

Quem, no teu sonho, lânguida, que faça
O véu de brumas que o teu vulto empana?
Noiva das ondas! Triste flor da raça!
Oceânide que o mar beija e profana!

Quando te vais, com sustos que o sol saia,
Banhar as formas de marfim brunido,
— Pra te verem passar por entre a bruma —

Os coqueiros debruçam-se na praia…
E o oceano, como um bárbaro vencido,
Lambe os teus pés, babuja-te de espuma.

 

Raul Bopp, Melhores poemas

Raul Bopp

Raul Bopp – Abisag

Meu corpo é teu, senhor. Queres beijá-lo?
Por que colheste, no horto em que eu vivia,
meu corpo em flor de tâmara macia,
sem teres forças para machucá-lo?

Na excitação de um lúbrico intervalo,
sinto ânsia de amor na boca fria.
Senhor, não vens? Ai, como eu te amaria
nesse mesmo tapete em que eu resvalo.

Dói-me um desejo nessa estranha boda:
O ardor de ter num desvairado instante
alguém que possa machucar-me toda.

Os meus braços vazios já estão cansados.
Senhor, não queres o meu corpo arfante
que tem sabor de todos os pecados?

 

Raul Bopp, Poesia completa

Raul Bopp

Raul Bopp – Lorgnette d´ouro

Sob a lorgnette d’ouro, em tédio humano,
O olhar reflete a pompa do seu vulto,
Quase à sombra das pálpebras oculto,
Indiferente a todo olhar profano.

Dentro do ebânico esplendor, o engano
Borda o sonho de seda em vago culto,
Morrerei nesse rútilo tumulto
Como em soturna solidão de oceano!

Pequeno inferno! Símbolo proibido!
— Quero sentir as sombras agoureiras
Dessa mortalha de cristal polido,

Desse palácio negro em róseo abismo,
Matando o amor do trono das olheiras,
Na majestade do indiferentismo!

 

Raul Bopp, Poesia Completa

Raul Bopp

Raul Bopp – Sino

Sempre de tarde, na hora em que escurece,
este sino na torre alta e sombria
começa a dar adeus ao fim do dia,
até que a última cor desaparece.

Com que mágoa eu recolho a dor que desce
no ermo do coração, tapera fria,
acordando fantasmas de alegria.
Ronda sentimental na hora da prece.

Sino de estranha religiosidade,
com sílabas de bronze incompreendidas,
vai conversar com Deus sobre a saudade.

Cala esse pranto ou chora devagar.
Com o eco de aflição dessas batidas
as estrelas se acordam pra chorar.

 

Raul Bopp, Poesia Completa

Raul Bopp

Raul Bopp – Pelas ondas

Olha este barco como vai sereno,
Levando nele os ledos namorados,
Voluptos irrequietos e abraçados
E tanto amor num bote tão pequeno!

Fôssemos nós ali, com barco pleno
Às ondas solto, muito descuidados…
Meus dedos pelos teus bem apertados,
Solto de renda o braço teu, moreno…

O teu cabelo, assim, lá bem revolto…
E o barco iria a todo pano solto
Sulcar ondas aos cálidos harpejos!

Tímida, os olhos para o espaço erguidos!
Mas depois… em desejos incontidos
Nós nos embriagaríamos de beijos…

Raul Bopp, Poesia completa de Raul Bopp