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Rupi Kaur

Rupi Kaur

Rupi Kaur – tentei fugir tantas vezes mas…

rupi kaur

tentei fugir tantas vezes mas
assim que eu dava as costas
meu peito sucumbia ao peso
eu voltava ofegante
talvez por isso te deixasse
arrancar minha pele
qualquer coisa
era melhor que nada
deixar que me tocasse
mesmo que sem gentileza
era melhor do que não ter suas mãos
eu aguentava o abuso
eu não aguentava a ausência
eu sabia que queria vida de uma coisa morta
mas não importava
que estivesse morta
porque pelo menos
era minha

Rupi Kaur, o que o sol faz com as flores

Rupi Kaur

Rupi Kaur – Eu passo dias de cama debilitada pela perda

rupi kaur

eu passo dias de cama debilitada pela perda
eu tento chorar para te trazer de volta
mas a água já ferveu
e ainda assim você não voltou
eu arranho a pele até ver sangue
perdi a noção do tempo
o sol se transforma em lua e
a lua se transforma em sol e
eu me transformo em espírito
uma dúzia de pensamentos
me atravessam num segundo
você já deve estar chegando
mas é melhor se for engano
eu estou bem
não
eu sinto ódio
sim
eu te odeio
talvez
eu não supere
eu vou
eu te perdoo
eu quero arrancar meu cabelo
de novo e de novo e de novo
até que minha cabeça exausta faça silêncio

Rupi Kaur, o que o sol faz com as flores

Rupi Kaur

Rupi Kaur – O primeiro menino que me beijou

rupi kaur

o primeiro menino que me beijou
segurou meus ombros com força
como se fossem o guidão da
primeira bicicleta
em que ele subiu
eu tinha cinco anos

ele tinha cheiro
de fome nos lábios
algo que aprendeu com
o pai comendo a mãe às 4h da manhã

ele foi o primeiro menino
a ensinar que meu corpo foi
feito para dar aos que quisessem
que eu me sentisse qualquer coisa
menos que inteira

e meu deus
eu de fato me senti tão vazia
quanto a mãe dele às 4h25

Rupi Kaur, Outros Jeitos de Usar a Boca

Rupi Kaur

Rupi Kaur – A mulher que vem depois de mim…

rupi kaur

a mulher que vem depois de mim vai ser uma versão
pirata de quem eu sou. ela vai tentar escrever poemas
pra te fazer apagar aqueles que deixei decorados nos
seus lábios mas os versos dela nunca serão um soco
no estômago como os meus. então ela vai tentar
fazer amor com o seu corpo. mas ela nunca vai
lamber, tocar ou chupar como eu. ela vai ser uma
reserva triste da mulher que você deixou escapar. nada
que ela fizer vai te excitar e isso vai destruí-la. quando
estiver cansada de se contorcer por um homem que não
dá nada em troca ela vai me reconhecer nas suas
pálpebras que a encaram com dó e tudo vai fazer sentido.
como ela pode amar um homem que está ocupado amando
alguém em quem ele nunca mais vai colocar as mãos.

Rupi Kaur, Outros jeitos de usar a boca

Rupi Kaur

Rupi Kaur – será que você pensou que eu fosse uma cidade

rupi kaur

será que você pensou que eu fosse uma cidade
grande o suficiente pra passar o feriado
eu sou a cidadezinha ao redor dela
aquela que você talvez não conheça
mas sempre atravessa
aqui não tem luz de neon
nem arranha-céu ou estátua
mas não vai faltar trovoada
porque eu deixo as pontes trêmulas
eu não sou carne de vaca sou geleia feita em casa
firme o bastante pra cortar a coisa mais
doce que sua boca vai tocar
eu não sou a sirene da polícia
eu sou o estalo da lareira
eu te queimaria e mesmo assim
você não tiraria os olhos de mim
porque eu ia ficar tão gata
que você ia corar
eu não sou um quarto de hotel eu sou a sala de casa
eu não sou o whisky que você quer
eu sou a água que é necessária
então não venha com expectativas
e tente me transformar numa viagem de férias

 

Rupi Kaur, Outros jeitos de usar a boca

Rupi Kaur

Rupi Kaur – Ele pergunta o que eu faço…

rupi kaur

ele pergunta o que eu faço
digo que trabalho em uma empresa pequena
que produz embalagens para –
ele me interrompe no meio da frase
não não o que você faz para pagar as contas
o que te enlouquece
o que te deixa com insônia

eu digo eu escrevo
ele me pede para mostrar alguma coisa
com as pontas dos dedos
toco a parte interna de seu antebraço
e vou roçando até o pulso
os pelos se arrepiam
vejo ele fechar a boca
os músculos se comprimem
seus olhos se derramam nos meus
como se eu fosse o motivo
pelo qual eles piscam
eu desvio o olhar
quando ele se move em minha direção
eu recuo

é isso que você faz então
você exige atenção
minhas bochechas coram
dou um sorriso tímido
confesso que
não consigo evitar

 

Rupi Kaur, Outros jeitos de usar a boca