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Sérgio Vaz

Sérgio Vaz

Sérgio Vaz – Beijo de volta

Sérgio Vaz

Estou partindo
enquanto você dorme feito Cinderela
branca e linda
frágil como brilho de vela.
Levo comigo um beijo seu
que roubei durante a noite
no bocejo do seu sono
no açoite do seu abandono.
Deixei do meu rosto
uma lágrima pra você guardar
na úmida página
do livro do nosso olhar.
Vou discreto como a brisa
como boca de batom
na gola da camisa
que é beijo sem som
é beijo sem se tocar.
Prometo voltar com o vento
se no caminho do meu amor
encontrar seu pensamento
sem mágoa nem dor
sem temor de voltar.
Com a boca seca de saliva
em carne viva de saudade e cor
pedindo pra você molhar.
Então,
devolver o beijo que roubei
secar a lágrima que deixei
antes mesmo de você acordar.

Sérgio Vaz, Colecionador de pedras

Sérgio Vaz

Sérgio Vaz – O milagre da poesia

Sérgio Vaz

Sou poeta
e como poeta posso ser engenheiro,
e como engenheiro
posso construir pontes com versos
para que pessoas possam passar sobre rios
ou apenas servir de abrigo aos indigentes.

Sou poeta
e como poeta posso ser médico,
e como médico
posso fazer transplantes de coração
para que pessoas amem novamente
ou simplesmente receitar poemas
para tristezas com alergias
e alegrias sem satisfação.

Sou poeta
e como poeta posso ser operário,
e como operário
posso acordar antes do sol e dar corda no dia,
e quando a noite chegar, serena e calma,
descansar a ferramenta do corpo
no consolo da família –
autopeças de minha alma.

Sou poeta
e como poeta posso ser assassino,
e como assassino posso esfaquear os tiranos
com o aço das minhas palavras
e disparar versos de grosso calibre
na cabeça da multidão
sem me preocupar com padre, juiz ou prisão.

Sou poeta
e como poeta posso ser Jesus,
e como Jesus
posso descrucificar­-me
e sem os pregos nas mãos e os fanáticos nos pés
andar livremente sobre terra e mar
recitando poesia em vez de sermão.
Onde não tiver milagres,
ensinar o pão.
Onde faltar a palavra,
repartir a ação.

Sérgio Vaz, Colecionador de pedras