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Teixeira de Pascoaes

Teixeira de Pascoaes

Teixeira de Pascoaes – Encantamento

Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar 
A tua dôce e angelica Figura, 
Esquecido, embebido num luar, 
Num enlêvo perfeito e graça pura! 

E á força de sorrir, de me encantar, 
Deante de ti, mimosa Creatura, 
Suavemente sentia-me apagar… 
E eu era sombra apenas e ternura. 

Que inocência! que aurora! que alegria! 
Tua figura de Anjo radiava! 
Sob os teus pés a terra florescia, 

E até meu próprio espirito cantava! 
Nessas horas divinas, quem diria 
A sorte que já Deus te destinava! 

 

Teixeira de Pascoaes, Elegias

Teixeira de Pascoaes

Teixeira de Pascoaes – Poeta

Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
D’uma luz triste, que era já saudade.

Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade…
Sou, em futuro, o tempo que passou;
Em mim, o antigo tempo é nova idade.

Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.

Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.

 

Teixeira de Pascoaes, Cinco séculos de sonetos Portugueses