Como um pastor apascento
minhas distâncias.
Mas logo me recupero,
para viver entre os vivos,
que estão cativos.
Meu corpo de esquecimento
mede as torres de abundância,
livres e abertas,
dos seus antigos despojos.
Que hei de fazer do que tinha,
ó sombra minha?
Nem feliz nem desgraçado,
pouso por fatalidade,
e ainda respondo,
embora saiba que é longe
para sempre quanto digo
ao mundo antigo.
E tudo que me respondem
fica também noutras eras,
vem de outra idade.
Pastor que contempla ocasos,
eu mesmo sou o meu caminho,
claro e sozinho.
Cecilia Meireles, O aeronauta
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