Cecília Meireles

Cecilia Meireles – Descrição

cecilia meireles
image_pdfimage_print

Amanheceu pela terra
um vento de estranha sombra,
que a tudo declarou guerra.

Paredes ficaram tortas,
animais enlouqueceram
e as plantas caíram mortas.

O pálido mar tão branco
levantava e desfazia
um verde-lívido flanco.

E pelo céu, tresmalhadas,
iam nuvens sem destino,
em fantásticas brigadas.

Dos linhos claros da areia
fez o vento retorcidas,
rotas, miseráveis teias.

Que sopro de ondas estranhas!
Que sopro nos cemitérios!
Pelos campos e montanhas!
Que sopro forte e profundo!
Que sopro de acabamento!
Que sopro de fim de mundo!

Da varanda do colégio,
do pátio do sanatório,
miravam tal sortilégio

olhos quietos de meninos,
com esperanças humanas
e com terrores divinos.

A tardinha serenada
foi dormindo, foi dormindo,
despedaçada e calada.

Só numa ruiva amendoeira
uma cigarra de bronze,
por brio de cantadeira,

girava em esquecimento
à sanha enorme do vento,
forjando o seu movimento
num grave cântico lento…

Cecilia Meireles, Vaga música

Você gostou deste poema?

Você Pode Gostar Também

Sem comentários

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.