Jardins de raciocínio:
teoremas de flor em flor.
Assim as pedras e a areia.
Agora, os cultivadores contentes meditam.
E as tulipas de todas as cores
tecem longos tapetes sossegados.
Carrilhões d’água, repuxos de musica,
e um raio de sol desenhando hipotenusas
de canteiro em canteiro.
E pessoas de todas as idades
enternecendo-se entre as flores:
– Gente da Rainha Juliana, da Rainha Guilhermina,
do Príncipe Mauricio de Nassau.
Em que malas portentosas se guardam secularmente
chapéus de plumas e altas golas de lã?
E pessoas de todas as idades vêm de suas cidades,
de seus campos, de canais e moinhos
para sorrirem sobre as flores.
Extasiadas respiram o mês de maio.
Explicam todos os matizes,
pregas de pétalas, peso do pólen,
com sua experiência de artesanato subterrâneo.
Jardins de raciocínio:
– axiomas de raiz em raiz.
Tão simples, tão cordial, a festa no jardim:
Sapatos como pedras passam como borboletas.
Os cultivadores sorriem.
O ano inteiro se trabalhou por esse sorriso.
Por esse tapete de flores.
E o raio de sol re colhe o seus desenhos,
sobe para o céu, perde-se na bruma
como frágil escada de ouro.
E os anjos da alegria, de asas abertas,
acompanham Descartes.
Cecilia Meireles, Poesia Completa
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