Agora chego e estremeço.
E olho e pergunto.
E estranho o aroma da terra,
as cores fortes do mundo
e a face humana.
Compreendo, entre o que me espera,
violências que reconheço
mas que não sinto.
Sem paixões e sem desprezo,
gasto-me todo em lembranças,
neste tumulto.
Porque chego despojado
e humilho-me de ter vindo
como estrangeiro;
– de ser apenas um vulto
que tudo que sabe é de alma,
– ao resto, alheio.
As portas dos meus armários,
que guardam dentro? Esqueci-me.
De que me servem?
Por mais que tudo examine,
vejo bem que já não tenho
laços e heranças.
Perdoai-me chegar tão leve,
eu, passageiro
dos céus, de límpido vento.
Cecilia Meireles, O aeronauta
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