Eu vi a rosa do deserto
ainda de estrela orvalhada:
era a alvorada.
Por mais que parecesse perto,
não vinha daqueles lugares
de céus e mares.
Os aéreos muros do dia
punham diamantes na paisagem:
clara miragem.
E a voz dos Profetas batia
contra imensas portas de vento
seu chamamento.
Reis-Touros e deusas-hienas
brandiam seus perfis de outrora
à ardente aurora.
Trágicas e divinas cenas
ali jaziam soterradas,
sem madrugadas.
Eu vi a rosa do deserto:
a exata rosa, a ígnea medida
da humana vida.
Eu vi o mundo recoberto
pela manhã da claridade
da incandescente eternidade.
Cecilia Meireles, Poemas escritos na Índia