Eu vi as altas montanhas
ficarem planas.
E o mar não ter movimento
e as cidades irem sendo
teias de aranha.
Por mais que houvesse, dos homens,
gritos de amor ou de fome,
não se escutava
nem a expressão nem o grito,
– que tudo fica perdido
quando se passa.
Eu vi meus sonhos antigos
não terem nenhum sentido,
e recordava
tantas nações de cativos
estendendo em seus jazigos
duras garras.
Rios de pranto e de sangue
que pareceram tão grandes,
onde é que estavam?
A asa, que longe se move,
desprende-se, quando sobe,
da humana larva.
Cecilia Meireles, O aeronauta