Charles Bukowski – Como um mata-moscas
escreva ao presidente
está chegando
tudo está chegando
um dia você beijará cães na rua
um dia todo o dinheiro de que precisará vai ser
você mesmo
será tão fácil que ficaremos completa ou
aparentemente loucos e
cantaremos por horas
criando mundos e rindo
doce menino jesus
o sonho está tão próximo
dá pra tocá-lo que nem um
mata-moscas
enquanto forçamos caminho pelas paredes rumo ao
sepultamento
a Bomba em si não terá importância
azulões de manteiga de amendoim rebentados perante seus olhos não terão
importância
é só
a conformação de luz e ideia e passos largos tudo
amontoado
em bando
caminhando
uma puta noite poderosa
um puta caminho poderoso
é tão fácil
um dia vou entrar numa jaula com um urso
sentar e acender um cigarro
olhar para Ele
e Ele vai sentar e chorar,
40 bilhões de pessoas assistindo sem som
enquanto o céu vira de ponta-cabeça e
racha fundo a
espinha dorsal.
Charles Bukowski, Tempestade para os vivos e para os mortos – Tradução, Rodrigo Breunig