Da cabeceira do rio, as águas viajantes
não desistem do percurso.
Sonham.
A seca explode no leito vazio
e a pele enrugada da terra seca e
sonha.
O barco espera.
O sábio contemplativo aguarda.
O homem, ao peso de qualquer lenho,
Não se curva.
Sonha.
Sonha e faz
com o suor de seu rosto,
com a água de seus olhos,
com a fluidez de sua alma,
cospe e cospe no solo
amolecendo a pedra bruta.
Faz e sonha.
E no outro dia, no amanhã de muitos
outros dias, a vida ressurge fértil,
úmida,
alimentada pelo seu hálito.
E que venham todas as secas,
o homem esperançoso
há de vencer.
Conceição Evaristo, Poemas da recordação
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