Os sonhos foram banhados
nas águas das misérias
e derreteram-se todos.
Os sonhos foram moldados
a ferro e a fogo
e tomaram a forma do nada.
Os sonhos foram e foram.
Mas crianças com bocas de fome,
ávidas, ressuscitaram a vida
brincando anzóis nas correntezas
profundas.
E os sonhos, submersos
e disformes
avolumaram-se engrandecidos,
anelando-se uns aos outros
pulsaram como sangue-raiz
nas veias ressecadas
de um novo mundo.
Conceição Evaristo, Poema da recordação