É abril na minha cidade.
É abril no mundo inteiro.
Sobe da terra tranquila um estímulo de vida e paz.
Um docel muito azul e muito alto cobre os reinos de Goiás.
Um sol de ouro novo vai virando e fugindo a longínquas partes do mundo.
Desaguaram em março as últimas chuvadas do verão passado.
É festa alegre das colheitas.
Colhem-se as lavouras.
Quebra-se o milho maduro.
Bate-se o feijão
já se cortou e se empilhou o arroz das roças.
As máquinas beneficiam o novo
e as panelas cozinham depressa o feijão novo e gostoso.
A abundância das lavouras são carreadas para depósitos e mercados.
Encostam-se nas máquinas os caminhões em carga completa.
Homens fortes, morenos, de dorso nu e reluzente,
descarregam e empilham a sacaria pesada.
Fecham-se quarteirões de ruas para a secagem de grãos
que secadores já não comportam.
Gira o capital, liquida-se nos bancos, paga-se no comércio.
As lojas faturam alto. É um abril de bênçãos e aleluias
e cantam nas madrugadas todos os galos do mundo.
Os pássaros, os bichos se fartam nas sobras do que vai perdido
pelas roças. Respigam aqueles que não plantam nem colhem
e têm direito às sobras dos que plantam e colhem.
Mulheres e crianças estão afoitas dentro das lavouras, brancas,
de algodão aberto, colhendo e ensacando os capulhos de neve.
Sobe dos currais serenados a evaporação acre do esterco e da urina
deixados pelos animais de custeio.
O leite transborda dos latões no rumo das cooperativas,
Borboletas amarelas voam sobre o rio.
E um sobrevivente bem-te-vi lança seu desafio
pousado nas palmas dos coqueiros altos.
É abril no mundo inteiro. Os paióis estão acalculados.
As tulhas derramando. Mulheres e crianças de sítio vestem roupa nova.
E a vida se renova na força contagiante do trabalho.
Um sentido de fartura abençoa os reinos da minha cidade.
Cora Coralina, Vintém de cobre