I
Meti o peito em Goiás
e canto como ninguém.
Canto as pedras,
canto as águas,
as lavadeiras, também.
Cantei um velho quintal
com murada de pedra.
Cantei um portão alto
com escada caída.
Cantei a casinha velha
de velha pobrezinha.
Cantei colcha furada
estendida no lajedo;
muito sentida,
pedi remendos pra ela.
Cantei mulher da vida
conformando a vida dela.
II
Cantei ouro enterrado
querendo desenterrá.
Cantei cidade largada.
Cantei burro de cangalha
com lenha despejada.
Cantei vacas pastando
no largo tombado.
Agora vai se acabando
Esta minha versejada.
Boto escoras nos serados
por aqui vou ficando.
Cora Coralina, Meu Livro de Cordel
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