Quisera eu ser dona, mandante da verdade inteira e nua,
que nua, consta a sabedoria popular, está ela no fundo de um poço fundo,
e sua irmã mentira foi a que ficou em cima beradiando.
Quem dera a mim esse poder, desfaçatez, coragem de dizer verdades…
Quem as tem? Só o louco varrido que perdeu o controle das conveniências.
Conveniências… palavras assim de convênio, de todos combinados,
força poderosa, recriando a coragem, encabrestando a vontade.
Conveniência… irmã gêmea do preconceito, encangados os dois,
puxando a carroça pesada das meias-verdades.
Confissões pela metade…
Quem sou eu para as fazer completas?
Reservas profundas, meus reservatórios secretos, complexos,
fechados, ermos, compromissos íntimos e preconceitos vigentes, arraigados.
Algemas mentais, e tolhida, prisioneira, incapaz de despedaçar a rede
onde se debate o escamado da verdade…
Qual aquele que em juízo são, destemeroso dos medos
para dizer mais do que as meias dissimuladas, esparsas?
A gente tem medo dos vivos e medo dos mortos.
Medo da gente mesmo.
Nossas covardias retardadas e presentes.
Assim foi, assim será.
Cora Coralina, Vintém de cobre
Sem comentários