Vintém de Cobre…
Antigos vinténs escuros.
(De cobre preto foi batizado).
Azinhavrados.
Ainda o vejo,
Ainda o sinto,
Ainda o tenho,
na mão fechada.
Moeda triste, escura, pesada,
da minha casa,
da minha terra,
da minha infância,
da gente pobre, daquele tempo.
Tudo velho, gasto, conservado,
empoeirado, pelos cantos.
Levados para o depósito do velho sobradão.
Colchas de retalhos desiguais e desbotados.
Panos grosseiros encardidos, remendados.
Potes e gamelas, pratos desbeiçados,
velhos sapatos,
furados, acalcanhados
eram disputados,
tinha sempre alguém que os quisesse.
Pilões lavrados a machado,
cavados em cepos de aroeira.
Mão de pilão, aleijada, redonda, sem dedos.
Mão pesada de bater, socar, esmoer, quebrar, pulverizar.
Mãos antigas, de menina-moça, agarradas, em movimentos ritmados,
alternados, batidas contínuas, compassadas.
Engenho doméstico de pilar.
“Quarenta vintém derréis…”
Dinheiro curto, escasso.
Parco. Parcimonioso.
De se guardar.
De um tempo velho.
De gente pobre.
Da minha terra.
Da minha infância.
Vintém de Cobre!…
Economia. Poupança.
A casa pobre.
Mandrião de saias velhas
da minha bisavó.
Recortadas, costuradas para mim.
Timão de restos de baeta.
Vida sedentária.
Orgulho e grandeza do passado.
Nesse tempo me criei.
Daí, este livro – Vintém de Cobre,
numa longa gestação,
inconsciente ou não,
que vem da infância longínqua
à ancianidade presente.
Cora Coralina, Vintém de cobre