A estrada está deserta.
Vou caminhando sozinha.
Ninguém me espera no caminho.
Ninguém acende a luz.
A velha candeia de azeite
de a muito se apagou.
Tudo deserto.
A longa caminhada.
A longa noite escura.
Ninguém me estende a mão.
E as mãos atiram pedras.
Sozinha…
Errada a estrada.
No frio, no escuro, no abandono.
Tateio em volta e procuro a luz.
Meus olhos estão fechados.
Meus olhos estão cegos.
Vêm do passado.
Num bramido de dor.
Num espasmo de agonia
ouço um vagido de criança.
É meu filho que acaba de nascer.
Sozinha…
Na estrada deserta,
sempre a procurar
o perdido tempo
que ficou pra trás.
Do perdido tempo.
Do passado tempo
escuto a voz das pedras:
Volta… Volta… Volta…
E os morros abriam para mim
imensos braços vegetais.
E os sinos das igrejas
que ouvia na distância
Diziam: Vem… Vem… Vem…
E as rolinhas fogo-pagou
das velhas cumeeiras:
Porque não voltou…
Porque não voltou…
E a água do rio que corria
chamava… chamava…
Vestida de cabelos brancos
Voltei sozinha à velha casa, deserta.
Cora Coralina, Meu livro de cordel
5 Comentários
Merilyn Monroe
15/01/2019 at 03:41Lindo. Como não amar Cora?
Daniela Pereira Versieux
02/01/2021 at 13:43Tem um erro nesse poema, que encontrei em vários sites.
Eu tenho o livro no qual o poema foi originalmente publicado e por isso sugiro a correção a seguir.
No último verso da primeira estrofe onde se lê:
“A velha candeia de azeite
de lá muito se apagou.”
Deve-se corrigir para:
“A velha candeia de azeite
de há muito se apagou.”
Ou seja, há muito tempo a velha candeia de azeite se apagou.
Espero ter ajudado, abraços!
Tudo é Poema
02/01/2021 at 17:11corrigido conforme livro “meu livro de cordel”, muito obrigado.
Daniela Pereira Versieux
02/01/2021 at 13:46Tem dois erros nesse poema, que encontrei em vários sites.
Eu tenho o livro no qual o poema foi originalmente publicado e por isso sugiro a correção a seguir.
1. No último verso da primeira estrofe onde se lê:
“A velha candeia de azeite
de lá muito se apagou.”
Deve-se corrigir para:
“A velha candeia de azeite
de há muito se apagou.”
Ou seja, há muito tempo a velha candeia de azeite se apagou.
2. No último verso da última estrofe onde se lê:
“Voltei sozinha à velha casa deserta.”
Deve-se corrigir para:
“Voltei à velha casa, deserta.”
Espero ter ajudado, abraços!
Tudo é Poema
02/01/2021 at 17:11corrigido conforme livro “meu livro de cordel”, muito obrigado.