Cora Coralina – Pablo Neruda (II)

Poeta. Partiu-se para sempre
a cadeia de ouro que enleava
tua cabeça, teus braços
e torso de gigante.

Manda um raio de tua fronte ungida
à minha inteligência oclusa,
à minha mente obtusa.

Amarrada em cordas grossas.
Pássaro depenado em sujo cativeiro,
Asa cortada de impossível voo.

Minha pequenina poesia…
Pobre, se arrastando no esforço
de alguém que pela vida
vai empurrando,

vai rolando um tronco pesado
de madeira encharcado,
sem valor e sem destino.
Manda-me de Temuco,
onde pousaste para sempre,
uma pluma de tuas asas abatidas
para que eu possa alcançar com ela
acima,
muito acima
do meu voo curto e rasteiro.

 

Cora Coralina, Meu livro de cordel