Cora Coralina

Cora Coralina – Trincos, Pinos e Tramelinhas

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Antigamente, as boas casas de Goiás tinham janelas de
rótulas como tiveram todas as cidades coloniais deste imenso
Brasil.
Em Goiás elas sobreviveram por mais de dois séculos,
sobrevivem ainda com velhos costumes domésticos que vão
se diluindo através das gerações, ao tempo que as rótulas
se modificam sem desaparecer de todo.
Nestes últimos tempos têm sido substituídas por venezianas
abrindo­-se para dentro. Sim, que as rótulas se abriam para
fora, em Goiás e em toda parte.
Mesmo desusadas e substituídas inda restam algumas em
casas não reformadas. Noutras foram simplesmente pregadas,
enquanto que as restantes continuam se abrindo para o lado
da rua.
Foi muito variada no Brasil a esquadria das rótulas. Nem
sabemos bem se elas vieram de Portugal ou de Espanha, se
eram autenticamente lusas ou mouriscas.
Foram elas o documentário mais expressivo da segregação
da fêmea dentro da casa senhorial.
As de Goiás eram as chamadas rótulas de tabuleta,
de tabuinhas, de colocação horizontal, grampeadas num pino
vertical, móvel, com trincos e tramelinhas laterais, para abrir e
fechar à vontade.
As paredes onde se encaixavam essas janelas eram
de notável espessura, como inda se vê em tantas casas.
Comportavam internamente, dos lados, assentos lisos ou com
almofadas onde as mulheres, mais comodamente, pudessem
estar à rótula.
Movendo trincos, pinos e tramelinhas era que a gente da
casa via o pequeno mundo da cidade e tomava conhecimento
de seus moradores.

Cora Coralina, Vila boa de Goyaz

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