Czesław Miłosz – O que eu escrevia
O que eu escrevia de súbito pareceu
ridículo. Eu não era capaz de exprimir.
Olhei para o mundo imenso, pulsante,
os cotovelos apoiados em um corrimão de pedra.
Rios corriam, velas rasgavam nuvens,
poentes desmaiavam. Todos os belos países,
todos os seres que desejei
se ergueram no céu como grandes luas.
Olhar fixo nesses estranhos lumes moventes,
contando seus arcos astrológicos,
sussurrei: mundo, cessa, piedade, eu me afogo.
Palavra nenhuma basta para a beleza.
Eu enxergava dentro de mim extensos vales
e podia, o passo alado e brônzeo,
lançar-me acima deles em muletas de ar.
Mas isso se foi, noite sem memória.
Czesław Miłosz, para isso fui chamado – poemas