E porque você me ama,
você pensa que não me odeia?
Ah, desde que você me ama
até ao arrebatamento
segue-se que você me odeia arrebatadamente.
Porque quando você me ouve
ir estrada abaixo fora da casa
você tem que chegar à janela para me ver,
acha que é pura adoração?
Porque, quando me assento no quarto,
aqui, na minha própria casa,
e você quer expandir-se com este meu amigo,
amigo como ele é,
mesmo assim você não pode ir além da sua consciência de mim,
você se detém por eu estar no mesmo mundo com você,
pensa que isto é êxtase somente?
harmonia total?
Nenhuma dúvida, se eu estivesse morto, você deveria
alcança-me na morte,
mas não iria o seu ódio demente muito além do seu amor?
o seu ódio apaixonado, inacabado?
Visto que você está apaixonada por mim,
como eu por você,
não fica essa paixão no seu caminho como o asno de Balaão?
e não sou eu o asno de Balaão
boca de ouro, ocasionalmente?
Acima de tudo, não detesta você meu zurro?
Desde que você está confinado à minha órbita
não detesta o confinamento?
Não é até mesmo a beleza e paz de uma órbita
uma prisão intolerável para você,
como é para todo mundo?
Mas nós aprendemos a nos submeter
cada um de nós à órbita eterna e equilibrada
na qual circundamos nosso destino
em estranha conjunção.
O que é o caos, meu amor?
Não é liberdade.
Uma desordem de estrelas cadentes resultando em nada.
D. H. Lawrence, Tudo que vive é sagrado