E lá estava ele
Carta marcada
Não tinha eu antes
Notado nada.
Mas uma cara amiga minha
A ele me apontara
E lá estava ele
Minha cura
Minha cara
Sem cabelo curto e topete
Sem camisa pólo engomada
Com cara de tostão furado na carteira
E camiseta de banda, amassada.
E lá estava ele
Me voltei ao cara do bar
Pra reclamar daquela cerveja
TAVA MUITO CARA!
Com a cara emburrada de derrota
Paguei pelo absurdo
De tentar curtir um pouco fora de casa
Voltei o olhar à mesa, e…
CARACA!
O cara foi embora!
Minha amiga brincou: “que fora!”
Conformada com o fim do episódio
Fui saindo de cena
Me tocou pela mão o Cidão
Atendente no bar do Custódio
E sem eu muito prestar atenção
Me empurrou um guardanapo, deslizando pelo balcão
Enquanto eu ainda forçava uma cara de pena
Amassado
(Tal qual era sua camiseta, lembrei)
Alguém escreveu uns borrões de caneta
Que das quatro linhas
Só deu pra ler a última e a primeira:
Primeira: “Olá, sou o cabeludo de camiseta preta
da mesa da esquerda, se me permite….”
Última: …”se a resposta for “SIM” me ligue”
E novamente um borrão mais à direita
no final do guardanapo
Com o que parecia ser
uma sequência interessante de números
Vi o rastro molhado da cerveja cara no balcão
E gritei:
“Pow! Sacanagem, você me fez perder o cara, Cidão!
Elis Maria, 6universos
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