Nesta tarde passa por mim um homem.
Este homem de mãos calejadas
e duras e grossas
paraibano
trabalhador
passa mulato e marrom por mim
com seus cabelos cacheados longos, mestiços
saindo molhados pelo buraco do boné.
Passa ele cheiroso que só
acabado de se banhar
e perfumado por cima.
Para onde vai?
Alguma mulher?
Era dia de pagamento?
Seguia pisando satisfeito
aquele homem operário da construção civil
dos civis do Leblon.
Passa e deixa um perfume bom.
Via-se que era um homem indo
ao encontro do sonho.
Tinha esperança nos ares dele.
Este homem
paraíba
masculino
operário
construtor
sonhador
esperançoso
trabalhador
brasileiro
e sem revólver
este homem
me comove.
Elisa Lucinda, A fúria da beleza
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