Elisa Lucinda – Mas é a cara do Lino
Bonitinha, toda vida, ia ela, pequenininha,
às aulas dos adultos e só oito anos tinha.
O pai dava aulas de Latim, Português e Sociologia à noite
A menininha ouvia e via.
Quem é? Sua filha, professor?
E os olhos dele correspondiam ao sim
como um gozo esplendoroso, cravejado de orgulho
tal qual o anel reluzente e precioso que já era o nosso laço.
Eu era a sua cara e gostava era demais de ser parecida com ele
Meu cartão de visitas, dizia segurando meu queixo
com delicadeza de homem lindo.
Era meu pai.
Pai, por suas aulas comecei a amar as palavras,
Por seus provérbios e citações comecei a amar o jogo delas
E a possibilidade infinita que podiam erigir os tais pensamentos
Por sua divertida didática aprendi a amar a alegria de cada gramático movimento
No dia do meu casamento me deu de presente uma máquina de escrever
E com esse presente me deu estrutura
de passado, futuro e poder.
Elisa Lucinda, Poesia do Encontro