O dia era bem filho daquela madrugada.
Era a cara dele, praticamente.
Bonito e bordado de harmonia entre nós:
me levou pela mão, ofereceu-me os próprios chinelos querendo,
descalço e delicado,
a proteção dos meus pés.
Pegou uma fruta do pé e me ofertou como flor.
Introduziu, safado e romântico,
a colher com um pedaço tremulante
de pudim com calda na minha boca.
Andou pelo pasto lembrando, menino lindo e solitário,
a infância dele.
Até que me chamou: Dadá!
(Pra que eu visse a beleza amarela de uma borboleta
pousada na folha do dia)
Dadá! Dadáááááá…
Ai, era meu nome de eu ser dele.
Meu homem…
a voz de meu homem ventou doce sobre o milharal
e acentuou o cheiro das tangerinas,
deu mais suculência às peras da pereira
e brotou sossego no meu coração.
Ninguém pode nos tirar esta memória,
este filme de paz em nós no meio do pasto,
esta água fervorosa do nosso amor
e a película incomparável de sua fina sede.
Ninguém jamais retirará o retrato desse dia
da alma de minha parede.
Elisa Lucinda, A fúria da beleza
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