À tarde que me seduz,
o parado sonso do vento
nas árvores, estátuas de verde
prateadas por um só fio filete de luz,
rendida estou e
sou dela refém.
Transito em seu planeta.
Levito parada feita a paisagem.
É que eu também dela sou paisagem,
e faço agora, de cabeça,
versos que só escrevi depois.
Há muitos anos a tarde me sequestra, ora pois!
Há inúmeras cigarras esta orquestra me detém e liberta!
Sob seu sovado me leva,
sou seu pão.
O que ninguém sabia até então,
nem eu,
é que este pão,
o famoso gostoso pão da tarde,
o das tardes frias,
o das tardes quietas,
o das tardes quentes e
o das tardes inquietas,
é feito da carne do trigo do olhar do poeta.
Elisa Lucinda, A fúria da beleza
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