Hoje, depois do banho,
em vez de encarar partes de mim mesma
eu quero me montar em outro quebra-cabeça,
eu observo minha boca enquanto memorizo um dos
meus poemas.
Mesmo que não planeje deixar ninguém ouvir,
penso naquele vídeo de poesia da aula…
Eu deixo as palavras se formarem sólidas na minha
boca.
Eu deixo minhas mãos fingirem ser marcas de
pontuação
que traçam, apontam e se apertam uma na outra.
Eu deixo meu corpo finalmente ocupar todo o espaço
que quer.
Eu balanço a cabeça, e faço careta,
e mostro os dentes, e sorrio, e ergo os punhos,
e cada um dos meus membros
é um ator tentando dominar o palco.
E aí Mami bate na porta
e pergunta o que estou falando aqui sozinha,
melhor não ser letra de rap,
e eu respondo: “Versos. Estou decorando versos.”
Eu sei que ela acha que estou falando da Bíblia.
Escondo meu caderno na toalha antes de ir para o
quarto,
e me conforto com o fato de que não estava mentindo
de verdade.
Elizabeth Acevedo, Poeta X
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