Elizabeth Acevedo – Mira, muchacha
É o jeito preferido da Mami de começar uma frase,
e eu sei que já fiz alguma coisa errada
quando ela me vem com isso: “Olha, garota…”
Desta vez é “Mira, muchacha, a Marina do prédio em frente
me falou que você estava na calçada de novo falando com los vendedores.”
Como sempre, eu mordo a língua e não corrijo,
porque eu não estava falando com os traficantes;
eles estavam falando comigo. Mas ela diz que não
quer papo entre eu e aqueles garotos,
ou qualquer garoto, e é melhor que ela não fique sabendo que estou pendurada
como uma camiseta molhada no varal só esperando para ser usada
ou ela mesma vai torcer meu pescoço.
“Oíste?”, ela pergunta, mas vai embora antes da minha resposta.
Às vezes eu queria dizer para ela que a única pessoa nesta casa
que ninguém escuta sou eu.
Elizabeth Acevedo, A poeta X