O verão existe para se sentar na calçada
e a uma semana do começo das aulas,
o Harlem abre os olhos pra setembro.
Eu observo o quarteirão que sempre chamei de lar.
Vejo as velhinhas da igreja, chinelas estapeando a calçada,
suas bocas desatando carretas de espanhol caribenho
espalhando seus disse me disse.
Espio Papote da rua de baixo
abrindo o hidrante
e as crianças correm pelo veio d’água.
Ouço os táxis piratas buzinando, bachata a todo volume
vazando das janelas abertas,
competindo com os ecos do basquete no Little Park.
Risos dos viejos — não do meu pai —
finalizando partidas de dominó com tapas
e gritos de “Capicu!”
Balanço a cabeça quando até os traficantes a postos perto do prédio
sorriem mais no verão, as caras feias se amaciando
em olhares grudentos para
as garotas em vestidos frescos e shorts:
— Ayo, Xiomara, você tem que usar uns vestidos assim!
— Porra, te casariam antes do fim das férias.
— Até porque todo mundo sabe que as carolas são as mais putas.
Mas eu ignoro as provocações, aproveito o finzinho da liberdade,
e espero as longas sombras me dizerem
quando Mami está para chegar do trabalho,
quando está na hora de subir às escondidas.
Elizabeth Acevedo, A poeta X
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