Elizabeth Acevedo

Elizabeth Acevedo – Sentando na calçada

O verão existe para se sentar na calçada
e a uma semana do começo das aulas,
o Harlem abre os olhos pra setembro.

Eu observo o quarteirão que sempre chamei de lar.

Vejo as velhinhas da igreja, chinelas estapeando a calçada,
suas bocas desatando carretas de espanhol caribenho
espalhando seus disse me disse.

Espio Papote da rua de baixo
abrindo o hidrante
e as crianças correm pelo veio d’água.

Ouço os táxis piratas buzinando, bachata a todo volume
vazando das janelas abertas,
competindo com os ecos do basquete no Little Park.

Risos dos viejos — não do meu pai —
finalizando partidas de dominó com tapas
e gritos de “Capicu!”

Balanço a cabeça quando até os traficantes a postos perto do prédio
sorriem mais no verão, as caras feias se amaciando
em olhares grudentos para

as garotas em vestidos frescos e shorts:

— Ayo, Xiomara, você tem que usar uns vestidos assim!
— Porra, te casariam antes do fim das férias.
— Até porque todo mundo sabe que as carolas são as mais putas.

Mas eu ignoro as provocações, aproveito o finzinho da liberdade,
e espero as longas sombras me dizerem
quando Mami está para chegar do trabalho,

quando está na hora de subir às escondidas.

Elizabeth Acevedo, A poeta X

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