O dia raia, amarelo azedo.
Cra-aac! — brilho forte e seco.
A casa foi atingida.
Crac! Um estalo, como um copo que cai.
Tobias saltou do parapeito, foi para a cama —
silencioso, os olhos brancos, o pelo eriçado.
Pirracento como filho de vizinho,
o trovão ficou sovando o telhado.
Um raio róseo;
depois granizo, enormes pérolas artificiais.
Branco morto, branco de cera, frias —
suvenires de um jantar formal
de antigamente, lá na lua —
ficaram a derreter enfileiradas
no chão vermelho mesmo depois que o sol nasceu.
Ao levantarmos, a fiação estava fundida,
faltava luz, cheirava a salitre
e o telefone, mudo.
O gato ficou nos lençóis ainda mornos.
As quaresmeiras perderam suas pétalas:
molhadas, roxas, caídas entre as pérolas de olhos mortos.
Elizabeth Bishop, Questões de viagem
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