Eucanaã Ferraz – Quem roubou o rubi do chapéu do mandarim?
Disposto a versos, olhar de peixe
torto, arrisca à queima-roupa:
moça tão linda, mais linda se nua,
se fores minha, a lua há de ser tua.
A cuja recusa, não quer ser musa
e sai pisando mundos.
Na caixa, o velho chinês,
imperador de Mesquita e Pequim,
grita coisas em sua língua kung fu
enquanto espelho copos fumaça
tudo abate e rebaixa o homem só.
O garçom se aproxima: aquela
loura magricela sobrancelhas pretas
é feiticeira
transforma os sujeitos em sardinhas
e vende fritos na feira.
O homem só olhos arregala o susto
enquanto o garçom dentes enigmáticos
mostra na confusão engordurada
dos cartazes:
fiado e amor só amanhã.
Dentre o bando de coitados,
bem-aventurados os bem-aventurados
grita um doido filósofo
dentro de sua gravata vermelha, mas
o outro, o cavalheiro de cabeleira branca,
sente-se desgraçado como só pode
alguém com a esperança
de ser o mais infeliz de todos,
promete. Andar de peixe torto,
ganha a rua acelera o passo vai
aos pedaços até sumir
entre os carros
e restar, vista
do alto,
a Muralha da China.
Eucanaã Ferraz, Sentimental