Nunca viste à madrugada,
De níveo manto através,
Uma linfa branca e pura
Saltando da serra escura
Qual um cabrito montês?
Em torno, tudo
São negras penhas,
Névoas ligeiras,
Grutas e brenhas.
E o sol despeja, Rasgando as brumas,
Torrentes de oiro
No véu e espumas!
Eis uma garça alvejante
Que abandona as cordilheiras,
E vai molhada de orvalhos
Perder-se nos moles galhos
De uma selva de palmeiras!
Assim murmura
De manhãzinha
O viajante
Que além caminha,
Cravando os olhos
Na linfa pura
Que se despenha
Da selva escura.
- Nunca viste-a?… Não importa,
Deixa os tristonhos palmares…
Vês agora esse gigante
Que se espreguiça arrogante
No leito imenso dos mares?
Em torno, tudo
São vozes, cantos,
Virgens florestas
De eternos mantos.
Plagas, – savanas,
Montes sombrios,
Curvam-se humildes
Ao rei dos rios!
Salve! Amazonas soberbo!
Salve! das águas Titão!
Teu povo brada arrogante:
– Quem vive ao pé de um gigante
Não tem receio ao Bretão!
Fagundes Varela, Melhores poemas