Há um poema acima de mim,
Um que paira na camada sutil e
Iluminada, onde meus braços
– mesmo quando pulo – não alcançam.
Ontem, subi numa cadeira.
A cadeira era manca e temi ficar na ponta dos pés.
O medo, mesmo que me faltasse bem pouco,
Para puxar o fio desse balão,
Não deixou que eu o pegasse.
E quase que por pirraça,
O poema ficou mais longe de mim.
Estou sentada na beira da cama.
A garganta dói pois tenho preso,
Entre paredes de carne vermelho-inflamação,
Um coração que entalei como um sapo.
O sapo das palavras que queremos dizer,
E calamos.
Meu coração-sapo pulsa nervoso e
Quase resignado.
Estou sentada na beira da cama,
Temendo chorar
Com o poema indo embora.
Pois, se eu chorar, terei o rosto – que dizem belo –
Desfigurado.
Não, não posso chorar!
Tem Paris pela janela e bons óculos para encobrir
A cegueira que a tristeza me causa.
Vou vestir um elegante traje,
Chutar a cadeira que me deixou mais manca e delicada,
E comprar um batom.
Fernanda Young, A Mão esquerda de vênus