Só há uma ideia do que a minha natureza
entende como paixão.
O corpo reage assim: taquicardíaco,
etílico, esfomeado.
Na ansiedade torno-me aquela que
não suporto,
a mesma que esperava na escada,
querendo ser levada
para algum lugar, longe dali.
O que aguardo é ficar longe
dessa menina que está sentada nos
degraus frios da escada.
E nas horas em que o mármore branco,
dessas horas, horas de uma tabela tonal
cinza-rato, gelam meu sexo, minha pele,
fico em dúvida se quero,
realmente, que o outro chegue.
Duvidar do que desejo angustia tanto,
a ponto de me fazer fugir.
E quando decido ir, ameaço,
testando aquele de quem espero ter atenção.
Deixando tudo mais tenso,
nervoso,
excitante.
Então, molhada eu fico, ainda ali
nos tais degraus de ansiedade,
lisos e frios,
de mármore-medo.
Fernanda Young, A mão esquerda de Vênus
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