Com que fúria ergo a ideia dos meus braços
Para a ideia de ti! Com que ânsia bebo,
Os olhos pondo em teus sonhados traços,
Todo fêmea em teu corpo de mancebo!
Teu hálito sonhado até cansaços
Como em meu vívido hálito recebo!
Ó carne que já sonho és tantos laços
Para mim! Deus-deus, Vênus-Éfebo!
Ó dolorosamente só-sonhado!
Soubesse eu o feitio exterior e o jeito
Em gestos e palavras e perfeito
As palavras a dar a este pecado
De só pensar em ti, de ter o peito
Opresso em pensar-te entrelaçado!
Fernando Pessoa, Cinco séculos de sonetos Portugueses
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