Calco sob os pés sórdidos o mito
que os céus segura — e sobre um caos me assento.
Piso a manhã caída no cimento
como flor violentada. Anjo maldito,
(pretendi devassar o nascimento
da terrível magia) agora hesito,
e queimo — e tudo é o desmoronamento
do mistério que sofro e necessito.
Hesito, é certo, mas aguardo o assombro
com que verei descer de céus remotos
o raio que me fenderá no ombro.
Vinda a paz, rosa‑após dos terremotos,
eu mesmo ajuntarei a estrela ou a pedra
que de mim reste sob os meus escombros.
Ferreira Gullar, A Luta Corporal
Sem comentários