Quatro muros de cal, pedra soturna,
e o silêncio a medrar musgos, na interna
face, põe ramas sobre a flor diuturna:
tudo que é canto morre à face externa,
que lá dentro só há frieza e furna.
Que lá dentro só há desertos nichos,
ecos vazios, sombras insonoras
de ausências: as imagens sob os lixos
no chão profundo de osgas vis e auroras
onde os milagres são poeira e bichos;
e sobretudo um tão feroz sossego,
em cujo manto ácido se escuta
o desprezo a oscilar, pêndulo cego;
nada regula o tempo nessa luta
de sais que ali se trava. Trava? Nego:
no recinto sem fuga — prumo e nível —
som de fonte e de nuvens, jamais fluis!
Nem vestígios de vida putrescível.
Apenas a memória acende azuis
corolas na penumbra do impossível.
Ferreira Gullar, A Luta Corporal