Eis um amor que bate à porta
em hora imprópria.
Ousado, liga a lâmpada frouxa,
joga a trouxa de roupa ainda manchada
do sangue das costas lanhadas.
Impõe cadeado no portão,
como se não fosse sair mais,
caminha decidido sobre minha paz.
Esse temido amor de hora errada
já vem assobiando pelo corredor.
O trinco da porta é fraco
e não sustenta;
a oração é rala e pouco aguenta,
o medo é pequeno e permissivo.
A tal amor que chega inoportuno,
eu me condeno.
Porque me condeno é que me sinto vivo.
Flora Figueiredo, Amor a céu aberto
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