Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim, Ave Marias!
Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,
Faz na vidraça rendas de Veneza…
O vento desgrenhado, chora e reza
Por alma dos que estão nas agonias!
E flocos de neve, aves brancas, frias,
Batem as azas pela Natureza…
Chuva… tenho tristeza! Mas porquê?!
Vento… tenho saudades! Mas de quê?!
Ó neve que destino triste o nosso!
Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!
Gritem ao mundo inteiro esta amargura,
Digam isto que sinto que eu não posso!!…
Florbela Espanca, Mestres da Poesia – Florbela Espanca
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