Na poltrona, desperto. Os ruídos
soprando grandes triângulos.
Pirâmides. Cilindros. Em
filas de cinema vislumbrei os pesados volumes
da terra sem lei. No Odeon as mímicas automáticas
de luminosas tesouras de titânio, cortando os tíckets
amarelos. As musas sob a pesada lona
exaltavam Wagner e as danças de mãos juntas.
As musas não se entendiam. Forçavam a trilha sonora
nos narizes. Nas testas. Onde assinavam as cifras
e o roteiro da obra-prima. Na poltrona, sabia ser Gigante
e subtrair espíritos em pequenos grunhidos. Era permitido
obter a glória na cabeça do vilão. As palavras flexíveis
viriam das bocas das ninfetas e bem antes das letrinhas.
Porque as musas são de bronze. Porque o céu é de couro.
E depois, porque o depois é fim, na última nota do violino e
no último crédito de figurante, todas as películas do sonho
se tornam uma una e imensa gota corporal
fugindo de olhos entreabertos.
Gabriel Resende Santos, Desvio para o Vermelho
Sem comentários