Ai! Brinquemos, filho meu:
sou a rainha, és o rei.
É teu esse verde campo.
De quem mais podia ser?
Por ti as ondas da alfafa
ao vento hão de estremecer.
É todo teu esse vale.
De quem mais podia ser?
Para que nos deliciemos
o pomar será de mel.
(Não é certo que tiritas
como o infante de Belém,
que o seio de tua mãe
secou de tanto sofrer.)
O cordeiro torna espessa
a lã que eu hei de tecer.
São teus também os apriscos.
De quem mais podiam ser?
E todo leite do estábulo
que das fontes vai correr,
e o regalo das colheitas,
de quem mais podiam ser?
(Não é certo que tiritas
como o infante de Belém
que o seio de tua mãe
secou de tanto sofrer.)
Sim! Brinquemos, filho meu:
sou a rainha, és o rei.
Gabriela Mistral, Poesias escolhidas