Nem o esforço dos banhos as areias
o pranto as frias dunas as vidraças
o por mim puro inverno já passado
nem maio nem lisboa nem a tarde
o verão de outro ano nem dos banhos
a vidraça o esforço arrefecendo
da água
nem a voz fementida
o ledo esforço poderia alterar
O esforço nestas praias era o
da luz de agosto do amor da
esperança
o inverno traçou
as ruas de vidraças
janelas apagadas
fogo disperso de perdidas falas
E depois que as vidraças se acenderam
da ferida de inverno deste ano
a janela apagada
o esforço em frias dunas empregado
depois que só o claro pão do rio
aquece a treva de hoje as frias ruas
e se matam os homens ao clarão
de lisboa
depois que os banhos são
esta dor pura no calor da pele
nas ruas de lisboa o nosso esforço
arrefece o inverno
Assim lutamos
e se alguém te perguntasse canção
como não rompe
o puro som do pranto nestas praias
podes-lhe responder que porque o esforço
se move sobre as dunas
e hasteia nas vidraças
Gastão Cruz, Poesia (1961-1981)