Um dia as minhas mãos de chumbo
e sortilégio se estenderão
isentas
como uma flor madura ou gesto
repentino ao sol fotografado.
Os meus dedos sem rumo
habitarão teu reino fechado
sobre o mar numeroso e noturno.
E as tuas mãos sem nunca
deslizarão mil dádivas sobre
o tempo prescrito e decifrado.
Teu corpo de silêncio e espuma,
palpitante e liberto do mármore,
do sal e dos vestidos imperecíveis,
teu corpo sereno muito
além das tempestades, submerso e nupcial como os peixes marinhos,
teu corpo em plenitude
me estenderá seus vínculos
no idioma das águas.
E seremos destino de afogados,
amantes das profundezas, noivos
cujos gritos já trêmulos
dormirão como as algas malferidas
de tanto aroma e claridade
Gilberto Mendonça Teles, Poemas reunidas