Amar! se te amo. não sei,
Oiço aí pronunciar
Essa palavra de modo
Que não sei o que é amar.
Se amar, é sonhar contigo,
Se é pensar, velando, em ti.
Se é ler-te n’alma presente
Todo esquecido de mi!
Se é cobiçar-te, querer-te
Como unia benção dos céus
A ti somente na terra
Como lá em cima a Deus;
Se é dar a vida, o futuro,
Para dizer que te amei:
Amo; porém se te amo
Como oiço dizer, — não sei.
Sei que se um gênio bom me aparecesse
E tronos, glórias, ilusões floridas.
E os tesouros da terra me oferecesse
E as riquezas que o mar tem escondidas:
E do outro lado — a ti somente,
Efêmero e precário — e após a morte:
E me dissesse: “Escolhe” — oh! jubiloso.
Exclamara, senhor da minha sorte! —
“Que Tesouro, na terra há’i que a iguale?
Quero-a mil vezes, de joelhos — sim!
Bendita a vida que tal preço vale,
E que merece de acabar assim!”
Gonçalves Dias, Obra poética completa
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