Henriqueta Lisboa

Henriqueta Lisboa – Amargura

Eu chegarei depois de tudo,
mortas as horas derradeiras,
quando alvejar na treva o mudo
riso de escárnio das caveiras.

Eu chegarei a passo lento,
exausta da estranha jornada,
neste invicto pressentimento
de que tudo equivale a nada.

Um dia, um dia, chegam todos,
de olhos profundos e expectantes.
E sob a chuva dos apodos
há mais infelizes do que antes.

As luzes todas se apagaram,
voam negras aves em bando.
Tenho pena dos que chegaram
e a estas horas estão chorando…

Eu chegarei por certo um dia…
assim, tão desesperançada,
que mais acertado seria
ficar em meio à caminhada.

Henriqueta Lisboa, Obras completas: I – poesia geral 1929 -1983

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